sexta-feira, 14 de abril de 2017

O intuito da Arte!



Dizem que ao terminar de pintar a parede, onde mostrava como os destinados a vida eterna - a caminho para o céu ou para o inferno - Miguel Ângelo foi confrontado a colocar roupas sobre os corpos nus que adornavam aquelas histórias para a vida eterna que a bíblia apresentava e a igreja pregava. O Papa Julio II não aprovou a visão do artista e, muito menos o artista aprovou que cobrissem seus corpos. Foram chamados outros pintores para cobri-los.

Michelangelo talvez teria sido preso ou mesmo morto muito antes num outro episódio, com o mesmo Papa, quando teria, sentido-se menosprezado por ter seus planos frustados: mais de 19 esculturas que previra para o mausoléu do próprio Papa, retornado a Florença. De Roma foi para florença e só voltou aos trabalhos quando o papa teria ido pessoalmente atrás dele. Não fosse a aura de gênio que carregava talvez nem saberíamos quem foi. De lá pra cá muita arte existiu e suas relações se transformaram no que diz respeito à sua forma, significados e funções entretanto o poder que emana dela é sempre temido e suas imagens questionadas. Por isso mesmo as formas de artes e as relações de identidade e cultura serão sempre as primeiras a serem destruídas e atacadas. Podemos observar no momento histórico onde o ministério da cultura foi o primeiro a sofrer uma retaliação sendo rebaixado a uma secretária, atitude desfeita por pressão da classe artística, e, junto a educação e as políticas de promoção da diversidade cultural, colocado como "gastos" desnecessários.

O Papa Julio II temia que a nudez daqueles corpos desviasse a atenção para o que realmente deveria importar, o pagamento da perdição, dos pecados, na posteridade eterna ou os afagos dos campos elísios cristão, resultante de uma vida regrada e compromissada com o divino espirito santo. O pequeno, e seu governo de mentiras, teme o poder do pensamento, e a sua primeira ação é reflexo disso: retirar a proposta de uma Pátria Educadora para um governo que esconde dados sobre suas próprias instituições de ensino. Pequeno não tem um Micheangelo para chamar de seu. Mesmo com o fechamento da agencia brasileira de comunicação para a população, o "esquecimento" de dívidas das concessões de rede pública de comunicação e o "investimento" em propagandas, que deixam bem claro o racismo e o fascismo evidente no seu governo de mentiras, mesmo que cobrissem suas vergonhas, não haveria tinta para esconde-las. Entretanto suas concessões de comunicação e patrocínio, com suas propagandas, garantem que a arte veiculada por elas escondam, ou tentem esconder a destruição de parcos direitos conquistados a duras penas.

 Quem passasse pela capela deveria ser tocada pela energia divina e seguir o caminho de deus, não se encantar por aqueles corpos distorcidos em sua beleza naturalista e tão próxima dos homens. Mas quem consome arte e quem pode consumir arte? Quem faz arte e pra quem é feita arte? Quem tem acesso à ela: em museus, bibliotecas, exposições, eventos, escolas etc, e quem tem acesso à sua produção em atelies, escolas ou mesmo em casa. É significante quando a gestão pública "investe" mais de 500 milhões em publicidade e deixa de "gastar" alguns parcos milhões em produções e editais culturais. Editais estes que já fazem parte da "tradição cultural" de se fazer cultura. Quando as Colunas de Trajano foram erguidas, os assírios no poder, fizeram com que lá estivessem as guerras e as vitórias com as quais se fizeram império, assim garantiram que fossem mostrados como grande heróis e não como perdedores: os mortos representados na coluna não são iguais aos assírios ali representados. Assim segue o plano de diretor de governo, patrocinando aqueles que vangloriam seus feitos em detrimento a qualquer outra forma de produção independente.






Campo Grande com toda sua soberba de capital deixa de ter representado em suas produções culturais e artísticas  mais de 8 milhões que não se sabe pra onde foram (e nem tem interesse uma vez que arte - dos perdedores - ainda mais AD-vinda de classes subalternas, são coisas fúteis e sem sentidos). As suas ultimas gestões deixaram de pagar editais e nem se cogitaram prestar uma declaração sobre o por quê de tais ações. Indo contrariamente aos próprios acordos conquistados em anos de luta dos atores sociais, envolvidos nas produções da cidade, em conjunto com sua população. Rosa Maria Murtinho em 2011  recebeu das mãos do então prefeito da cidade, a chave do Teatro Municipal do Paço junto à promessa e comprometimento de abri-lo, numa gestão compartilhada entre produtores e administração pública. Estamos esperando que ela venha abrir.

Essa situação reflete bem nossa fruição de arte. Somos acostumados a consumir arte, em sua grande maioria, pelos produtos de rádios e televisão praticamente (internet), não por não querer, mas simplesmente por não haver um acesso facilitado, por exemplo, circulação de transporte público, horários amplos e direcionados, eventos fora dos grandes centros. Nossos heróis e heroínas são construídas nas noites após o jornal. Escolher uma atriz que nada tem a ver com a cidade, ou acrescentou para, apenas pela passagem dela , usando sua imagem para ludibriar com ajuda de jornais e revistas, sem nenhum real compromisso com a gestão de cultura e arte é a política de gestão atual, não só do governo municipal como estadual e nacional. Um intuito mascarado, pois é uma necessidade desse marketing, dessa venda,  de destruir o pequeno avanço na redistribuição das diferenças culturais, avanços conseguidos pela ação dos produtores culturais diretamente e indiretamente nas gestões públicas. Assim como Julio II, as gestões atuais ( conseguiram o poder através da força - do dinheiro ou de um golpe-) tentam cobrir nossos corpo nus, utilizando e vangloriando-se dos louros pelas arte produzida com recursos escassos e próprios (o Papa ao menos bancava as custas do dinheiro de quem pagava por uma vaga no céu), com adesivos de janela em hospital público.