quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Quem é o Walcyr e Quem é o carrasco nesta história?

        As novelas no Brasil tem uma historia longa datada desde tempo remotos nos cortiços quando   o povão se reunia pra ouvir alguém ler os folhetins diarios publicados nos jornais. Daquele tempo até se desenvolver no que hoje conhecemos como novela - mudaram-se as formas de apresentação, dos folhetins publicados diariamente, as radionovelas, fotonovelas e as novelas da televisão - diversas historias foram contadas. E toda novela pede um grande vilão/vilã  e um/a grande mocinho/a.



         Recentemente re-assisti  a novela o Cravo e a Rosa, de época se passando no brasil dos anos 1920, conta a historia de Catarina vivida pela atriz Adriana Esteves é a filha de um banqueiro forçada a se casar com Petruchio um fazendeiro sem estudos e trabalhador, papel de Eduardo Moscovis. A novela livremente inspirada na Megera Domada coloca a personagem principal como uma feminista e qual é a principal briga de catarina? Não casar! No começa da trama ainda aparecem algumas cenas onde Catarina junto a outras duas amigas em protestos pedindo pelo direito ao voto feminino o que logo já é esquecido pois que suas amigas ficam a disputar as atenções de um homen, um falso mudo, enquanto Catarina se ve apaixonada por Petruchio envolvida pelas suas artimanhas. A pauta feminista é reduzida a isso! "Nosssa mas você queria que uma novela fosse comprometida com a verdade historica?" Sim, queria, mas sei que isso não acontecerá! 

      Originalmente a novela foi apresentada no horário das 18h que em geral apresentam novelas de conteúdo mais abrangente e leve, direcionado as senhoras de idade e aberta ao público em geral. A televisão nasce para a publicidade e, por mais que não seja o foco, ser um meio de arte mas de comunicação(vitrine publicitária), suas produções envolvem e se aproveitam de toda forma e linguagem de arte seja  de forma simples como a produção de cenários  e figurinos, ou de forma complexa na produção conceitual e visual. Uma novela de época perde um pouco de seu poder atrativo para as grandes marcas mas se consegue desenvolver uma narrativa atraindo um grande público nessa faixa de horário, é um sucesso entre marcas de produtos de limpeza. Com um repertório de personagens estereótipados e de atores famosos, e queridos do público, a novela foi um sucesso de audiência na época.

         A grande vilã da trama é Marcela, filha de um rico latifundiário representada pela atriz Drica Moraes, persegue Petruchio e para ameaçar Catarina acaba  casando-se com o banqueiro Batista, pai de Catarina. Entretanto ao longo da novela os mocinhos mostram-se tão vis quanto a vilã, em cenas que Petruchio maltrata seus empregados humilhando-os ou em que Catarina usa o afilhado como bode espiatório. Este por sua vez é tratado por todos os personagens como um pequeno serviçal, e é um dos dois personagens negros da trama. O segundo personagem é um apaixonado pela vilã. Tudo isso com viés bem humorados e com aquele olhar do racismo a brasileira: sutil e naturalizado. Marcela a vilã casando-se com o banqueiro o afasta de seu verdadeiro amor: uma lavadeira por anos enganada pelo banqueiro, essa é de longe o mais abragente sobre a relação de classe e de brinde ainda contém o estereotipo do pobre orgulhoso e honesto e do pobre ganancioso, onde a oportunidade faz o ladrão, a lavadeira  trabalhdora que sustenta seus filhos e rejeita o dinheiro do banqueiro e a amiga da lavadeira que se aproveita da situação ora ao lado da vilã ora fazendo seus proprios planos em cima da inocência da amiga. Nem vou dizer sobre o trio amoroso formado pela outra filha do banqueiro entre um rapaz de sua idade e um professor mais velho. O professor Edmundo, Angelo Antonio, no final casa com Bianca, Leandra Leal com sua cara de mocinha virgem, mas somente após conseguir montar sua própria escola com seu próprio dinheiro! Sim naquela época professor ganhava bem o suficiente pra juntar um dinheiro e erguer a própria escola sim, só dando aulas. É por isso que gostamos de novelas! São totalmente fantasiosas. 

           E o que as senhoras e donas de casa tem a haver com isso? Elas são consumidoras finais de um meio de comunicação que entra nas casas de milhares de pessoas todos os dias com diversas mensagens e podendo influenciar, para o bem ou para o mal.  Enfim uma trama que poderia representar e trazer diversas questões para o público como o feminismo, as relações trabalhistas, educação publica e formação politica foi tratado de forma estereótipada e rasa com aquele discurso neoliberal de que você só é pobre por que quer. Exigir um compromisso historico de obras ficcionais ou que a obra apresente um olhar critico sobre os temas que aborda é cair numa vala rasa da moralidade.  Entretanto por mais que uma novela não apresente tais compromissos ela apresenta um olhar e um discurso e seu acesso a grandes publicos a torna uma vitrine para se colocar ideias ou para vender o teu  produto. Com todo esse poder de persuassão e acesso a milhares de pessoas quem é vilão nesta historia? Quem escreve ou quem assiste? Quem patrocina ou quem tem poder de dar falas as personagens?

P.s. não assisti Dona do Pedaço só o primeiro capitulo. Forçado. Eu e o Capitulo.

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