domingo, 20 de fevereiro de 2011

7 Perguntas para Priscilla!

O marco exibe, até o dia 27 de fevereiro de 2011, a obra “Nus”. Da artista plástica Priscilla Pessoa. Professora de História da Arte na UFMS, ela expos os segredos de várias pessoas pelas paredes do museu! Em seu ateliê ela concedeu uma pequena entrevista sobre sua obra.




Foram dois anos de pesquisa da obra, como foi isso?

Na verdade não foram dois anos de pesquisa, foram dois anos juntando material para fazer a obra. Por que ela não é uma pesquisa, na verdade ela é uma obra aberta. Em dois sentindos: primeiro por que eu tenho pouquíssimo controle sobre ela! Eu passei dois anos juntando segredos numa caixa lacrada. E ela é aberta também por que depois de exposta ainda deixa várias brancos no banheiro para que as pessoas escrevam. Então eu acho que funciono muito menos como pesquisadora e mais como coletora, né? A parte da minha criação, acho que foi a idéia do projeto. O desenvolvimento dele, fora a parte de montar, de como vai ser mas o conteúdo dele em si acaba dependendo do participante!

“A arte para ser vivida”, como aparece isso e de que forma aconteceu essa interação?

Para não fica uma coisa muita invasiva, por que o que eu pedi era uma proposta muito intima. Eu pedia para a pessoa contar uma coisa que ela não contaria pra ninguém, então eu nunca falei com ninguém diretamente sobre isso. Eu preparei um monte de cartõezinhos, onde eu escrevia o que, qual era a proposta, onde iria ser exposto, que era uma coisa séria e anexava o papel onde a pessoa poderia escrever e colocar em uma urna. Então eu tentei fazer da forma mais impessoal e profissional possível. E aí eu levei em vários lugares, eu não se você chegou a ver, nas palestras do Arte Agora, em festa, reunião de família, outras faculdades, onde eu pude levar eu levei. Só que muita pouco gente topa participar! Eu mesma não sei se toparia(risos), se alguém me pedisse! Então por isso que levou tanto tempo, para juntar. Deu menos de 200 segredos. Agora deu mais por causa do banheiro! Mas foi assim, eu tentei aparecer o menos possível!

Arte e sagrado. Confissão. O ato de se confessar algum segredo, na religião é para conseguir o perdão divino. Você faz alguma relação do ato de confissão com a obra?

O ato de confissão? A principio não! Eu acho assim, é um trabalho muito complexo e tem mais coisas que eu poderia explorar né? Por exemplo essa própria coisa da confissão, da culpa mas eu não fui tanto por esse viés. O que eu pense mais foi na idéia do Nu! Até por isso colocar a obra dentro do museu! Por exemplo tem um projeto semelhante a esse meu na internet que ele funciona como confissões. Ele chama “confessions”, não lembro bem, e um site você escreve anonimamente. E esses dias foi no noticia, eu vi no Jornal Nacional, um aplicativo para Iphone que você se confessava, quem criou foi um padre filiado ao Vaticano! Mas a proposta é menos essa, né? O que eu acho interessante é estar colocado no museu, como obra de arte e se chamando “Nus”. Então falando um pouco sobre o que é realmente estar nu hoje, o que mais é exposto. Qual a exposição maior: a da nudez ou de algum segredo? Então a gente tem a sensação de que vive em uma época que todo mundo pode saber, você publica as coisas, você vê a vida dos outros, você fala com alguém em qualquer lugar do mundo, mas eu acredito que a essência da gente, das coisas secretas, a gente mantém! Eu acredito que não tem nenhuma pessoa que não possua uma coisinha que não contaria para ninguém! Eu sinceramente preferia apanhar que qualquer coisa à dizer publicamente algum segredo grande meu! Talvez nem fosse grande coisa. Então eu acho que o que eu procurei focar mais mesmo que a questão da culpa, da confissão que também seria interessante é a nudez! E como ao mesmo tempo a gente pode olhar aqueles segredos... então eu acho que todo mundo se identifica com alguma coisa, de perto todo mundo tem algo para esconder!


Por que essa disposição da obra? Além da parede do museu, também está dentro do banheiro?

É por que esse projeto, eu pretendo que ele seja uma coisa continua, mas eu não quero mais sair juntando segredos! Eu precisava daqueles primeiros que eu montei pra montar a primeira parede. Toda vez que eu for expor eu vou ocupar, além da parede, o banheiro! Para que no banheiro as pessoas possam continuar escrevendo, para eu juntar mais segredo e fazer uma grande coleção! Pra quê, eu não sei! E o banheiro é o único lugar do museu que realmente você tem intimidade e assim para remeter a própria idéia do banheiro. Por mais que você more com quinhentas pessoas ou que você freqüente uma faculdade com milhares de alunos, tem um momento que você está dentro do banheiro, que é único, que ninguém está te vendo! Nem câmera de segurança você pode colocar no banheiro! Então tem isso também e é justamente no banheiro que se escrevem as maiores barbaridades então eu só estou pedindo para escrever na minha moldura!

Há vários tipo de segredos desde amores platônicos, sonhos à adultérios e obscenidades. Como você recebeu isso e a decisão de exibi-los?

Eu tinha me proposto a exibir todos! Eu acho que o museu é um espaço para adultos, tudo bem as crianças podem freqüentar, mas a principio ele é para adultos e outra coisa também é uma obra de arte. Seria muito estranho a própria artista fazer uma censura! E eu esperava mesmo que ia ser esse tipo coisa por que o segredo e ninguém vai ser uma receita de bolo! São justamente essas coisas então era bem o que eu esperava. O meu medo era justamente o contrário, que de repente fossem coisas tão amenas, que as pessoas não tivessem coragem de dizer e aí não faria sentido a obra!

Você é professora de faculdade. Isso tem alguma influência na obra, como isso aparece?

Olha, tem muita influência sim. Por quê eu dou aula de História da Arte(ufms)! E para você dar aula você acaba estudando muito mais do que ensinando. Então esse contato que eu tenho diário com a história da Arte, acaba me influenciando muito no sentindo de ser muito difícil para mim cria alguma coisa que não tenha algo de dialogo com essa tradição. Então a própria idéia do nu, de colocar isso em um museu e fazer uma comparação entre o nu, que é um tema milenar na história da Arte. Tem toda questão de entender melhor do que uma instalação, entender o que é uma obra aberta, tudo isso eu devo ao contato com o ensino. Isso por outro lado influência quando eu vou dar aula também! Por que quando você tem uma atividade ligada a Arte de certa forma você acaba se atualizando, você vai atrás de coisas que você pode levar para a sala de aula. Eu pretendo não produzir todo ano, como eu produzia antes, que não dá mais tempo, mas sempre produzir, visitar museus, visitar bienais que é uma forma de nunca ficar tão velha quanto as coisas que você ensina!(risos)

Você colocou alguma confissão? E alguém não colocou?

Eu coloquei! Coloquei duas minhas lá. E muita gente que eu pedia para participar devolvia! Eu pedi, inclusive, no próprio papelzinho para nem devolver para mim! Devolve ali para quem te deu ou onde estava. Deixava bem claro que não era obrigatório nem nada. E principalmente quando eu pedia para os alunos, para ninguém achar que era vinculado à nota. Eu sempre pedi como artista, esse é um trabalho que não tem nada a ver comigo, como professora. Mas eu acho natural que as pessoas não queiram participar, por que colocado ali todo mundo junto vira uma obra de Arte, mas é a intimidade de cada pessoa! É uma coisa assim que deve pesar, não deve ser fácil carregar. Normal!

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