segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

7 Perguntas para Maíra!

Em janeiro estive no MARCO e pude ver a exposição QUEIME O CASTELO de Maíra Espindola. São quadros surrealistas e cheios de subversão sobre contos e histórias que há muito tempo fazem parte do nosso imaginário. A exposição vai até dia 27 de fevereiro no MARCO, com exibição gratuita.
Agora estive com ela, e numa entrevista informal, Maíra falou um pouco da exposição e seu processo criativo!
Segue a entrevista em mp3 e em texto para uma maior acessibilidade!


ps. perdão pela voz e inexperiência do entrevistador...
O texto passou por uma correção gramatical!








Quando tempo pra compor e finalizar? Fale um pouco do processo de produção.

Bem, eu comecei a produzir, mas não sabia exatamente o que ia ser. Não tinha nome, não tinha uma cara, a primeira tela foi a Mandratana e a segunda, o Barba Azul. Percebi que estava estudando contos de fadas, que elas eram parte desse estudo e aí “entrei numas”. Comecei a pesquisar mais, a brincar mais, principalmente com conto de fadas, que me são interessantes até hoje. Foram uns três meses, basicamente, para produzir quase tudo, e algumas peças foram aparecendo depois. Então, do início até o fim da produção, levei uns cinco meses, e – pasme! – a peça mais difícil foi a última, foi a que demorou mais tempo: “O Príncipe Encantado”. Tendo eu 31 anos, solteira, discutindo o amor, fica bem claro o porquê (risos).

Quais técnicas você utiliza e por que as escolheu?

Na verdade, coloquei em quase todas as peças colagem e pintura digital, que foi o que eu comecei a produzir, era a base de tudo. Comecei a capturar imagens do Google, de flickers pessoais e a pilhar, mesmo, como pirata: pegar, costurar, cortar, colar, pintar, redesenhar. Cada obra deve ter em média 20 fotos, que ficaram irreconhecíveis, duvido que alguém reconheça de onde vieram. Chamei a isso reciclagem visual, porque a gente sabe que o universo da internet não é um universo físico exatamente. E cada vez mais a gente produz essas imagens, cada um de nós, mas ninguém as está reciclando. Tenho a impressão de que isso vai dar um bug, nessa dimensão louca onde essas imagens ficam, e tudo vai explodir se a gente não começar a reciclá-las, se só ficarmos fazendo, produzindo novas coisas.

Você é uma artista que passeia por várias áreas: canta, dança, representa, sapateia e pinta. Como isso influencia suas obras?

Não faço a mínima idéia (risos). Acho que o artista não tem apenas uma forma de agir, ele tem uma matéria, qual seja a música, a imagem, a qual ele domina ou não. Às vezes eu produzo muito cinema, mas cinema me encanta, é tudo que me alimenta, eu gosto de historias, eu gosto de narrativa, então, eu faço uma exposição que se chama “Queime o Castelo”, sobre narrativas, sobre contos de fadas. Cada obra parada, um quadro parado, conta uma historia que você já ouviu – tudo bem, pode-se dizer que é uma releitura louca, alucinada, de Maíra, que na cabeça de Maira tudo é louco, mas, necessariamente, eu não sei onde os pontos são dados, qual é o tanto que eu entenda e goste de cinema ou o tanto que eu goste, entenda e produza música ou imagens. Hoje em dia, ninguém é mais artista plástico, todo mundo é designer gráfico, então, não sei onde está o ponto, mas acho que isso tudo se interliga.

Irmãos Grimm, bonecas, fadas: qual a relação dos contos de fadas com a técnica de colagem digital?

Acho que é algo subversivo. Uma atitude extremamente pirata minha de pegar e recontar histórias antiquíssimas. É obvio que já que foram pilhadas por outros, já foram modificadas, mas depois de um tempo elas se cristalizaram, então a gente conhece a história da Chapeuzinho Vermelho, da Bela Adormecida, e inclusive já relaciona as imagens desses contos de fada a filmes da Disney ou qualquer coisa parecida. Só que essas imagens são extremamente sinistras, esses contos de fadas são extremamente sinistros. O que eu quis fazer – e a técnica, necessariamente, nem é a questão – foi dar esse recorte de que hoje em dia somos uma geração extremamente prolífera e polifônica, tudo acontecendo ao mesmo tempo agora, muita imagem, e, ao mesmo tempo, no fundo da gente, ainda temos aqueles valores infantis, esses mesmos contos de fada ainda nos fazem sentindo. O príncipe encantado, aquele, que é a peça mais difícil da exposição, que me é um assunto muito importante, relevante ao homem pra mim, é aquele homem que eu espero e me foi ensinado. Ao mesmo tempo, eu o recorto e pico e remonto, porque é o meu príncipe encantado. Mas, ainda assim, ele faz parte de outros universos de príncipe encantado, de qualquer uma... ou um (risos).

O folheto da exposição vem assinado por uma amiga sua, Moema. Qual é a forma com que seus amigos a influenciam e como isso aparece – se aparece – na sua obra?

Uso muito meus amigos, normalmente – não necessariamente nesta exposição –, inclusive como imagem. Faço a mesma coisa: capturo fotos deles, pico e crio outras coisas, mas a Moema é um pedaço de mim, já não é mais nem amiga nem família: é um pedaço meu que está lá em Porto Alegre. Talvez ela seja a bailarina dos meus sonhos – meus amigos são meus contos de fadas também. Eu crio e recrio mitos, e eles mesmos recriam também mitos a partir de mim. No caso dessa exposição, está claro que é isso, mas eu não saberia dizer onde eles estão aqui neste momento, nestes quadros.

O sobrenome Espíndola é conhecido por sempre estar na área artística, isso a influencia de alguma forma?

Às vezes influencia para dar “carteirada”, né? (risos). Como suporte familiar nada, como referencia artística, tudo. O Humberto, por exemplo, é artista plástico fantástico. Ele me influenciou bastante, inclusive, percebi com o tempo que muitas peças que produzi têm uma referencia dele, lá distante, porque eu releio também. Ele não é meu “mestre”, eu não sou uma seguidora dele, eu simplesmente capturei alguma coisa dele ali que me é importante, algo que eu acho belo ou uma técnica que eu admiro, afinal, ele produz imagens com maestria. No e no caso dos outros, sou fascinada por algumas letras da Alzira e do Celito, de uma simplicidade tamanha que chega a ser uma faca no estômago, pois criar algo simples, sintético, que faça sentido pra qualquer um que entenda a língua é muito difícil. E ainda não banalizar, não deixar o texto tosco, isso aí é muito mais difícil, e nisso eles me influenciam, sim, não sei também exatamente de forma aqui nessa exposição. Talvez, se o Celito vier aqui, olhar e falar: “Olha, eu tô aqui! Tá vendo?”. Talvez ele veja, eu não vejo (risos). Ainda!

Sua exposição fica na sala onde ano passado foram expostos os quadros da Ligia Baís. Expor na mesma sala que ela diz alguma coisa pra você?

Eu acho que ela era subversiva também, extremamente subversiva, uma mulher rica, transformar-se numa artista plástica naquela época, não seguir os padrões da elite com a qual ela convivia e à qual pertencia. Acho que me identifico só nisso. Talvez também certa idolatria que mantenho. Mas eu tenho mais a ver talvez com o trabalho da Frida Kahlo, que lembra o de Lídia, mas com outra técnica. Às vezes é a mesma temática, mas Lídia era extremamente católica, coisa que não me faz muito sentido, é muito cristão, blábláblá, muito Jesus. Não que Jesus não seja um ótimo personagem, eu adoro Jesus, mas ele era um rebelde, e em Frida Kahlo isso me faz mais sentido. Mas Lídia Baís realmente foi a nossa vanguardista, isso não se pode negar, e era muito subversiva.

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