No palco casulos feitos de açúcar, duas mulheres e um narrador para contar a história escrita no século XIX por Visconde de Taunay. Inocência é uma adaptação feita pelo coletivo Corpomancia que, depois de passar por escolas da capital, apresentou-se na segunda Bienal de Teatro de Campo Grande. Quem esteve lá presenciou uma experiência estética delicada, agradável e leve. Ao fim da apresentação tive a oportunidade de conversar um pouco com o grupo sobre o processo de criação da obra, como se chegou àquelas formas de dança e movimentos, situações criadas entre personagens e atores (mãe e filho), a narração quase didática e a presença de uma borboleta deliciosamente colocada em todas as nuanças e transformações do palco, do ambiente e dos corpos.
De onde surgiu a ideia?
"A história começou
porque a Paula, diretora e criadora, tem uma relação próxima com o
livro porque o pai dela foi promotor da comarca de Inocência e
colecionava edições históricas. Em 2006, Paula era bailarina do
Ginga, e a companhia foi convidada a participar do lançamento de uma
edição histórica comentada pelo professor Hildebrando Campestrini. A ideia não vingou, mas ela guardou-a. No ano passado, conversamos sobre o projeto e decidimos retomá-lo. Iniciamos uma pesquisa em vídeo-dança, e
ela queria ligar a proposta à questão da luta da mulher, para isso utilizamos
até o kung-fu. Neste ano, escrevemos um projeto e através da FUNARTE
conseguimos o financiamento para iniciá-lo, só que então a Paula
engravidou, houve mudanças e entraram outros atores. Para simbolizar a relação entre pai e filha que há no livro, invertemos a situação e mostramos a relação mãe e filho, comigo e o Guilherme. Também chamamos a
Camila e desde fevereiro trabalhamos neste projeto."
Renata Leoni
"O Taunay tinha essa
visão de vivenciar o ambiente, e o livro é muito descritivo. Eu
também não li o livro e sei muito sobre ele por causa de todo esse
processo. E nessa personagem "científica", o biólogo, o que fica de mais importante é
a experimentação com o corpo. Perguntamos: se Taunay
estivesse vivo, sobre o que ele escreveria? A obra é de 1872, e
nós a atualizamos, trazendo para nossa época temas que achamos que ele trataria."
Franciele Cavalheri
"Quando ele passou por aqui, tinha essa questão das meninas serem prometidas desde cedo. E sempre nos perguntando por que essa obra nos importa hoje?"
Camila Emboava
Sobre a dança, o teatro, o hibidrismo...
"Eu venho de uma
experiência com o Maria Madalena, e as pessoas vinham perguntar o que
era. Esse era o primeiro questionamento: isso é dança? E chamaram
de teatro contemporâneo, teatro da dança, dança-teatro. Meu
argumento é o seguinte:
nossa formação é de dança, tenho alguma formação em teatro, talvez uns dez por cento. E a gente aproveita isso. Por exemplo, o Guilherme fala na peça como ele fala normalmente, no dia-a-dia. Não temos treinamento para ator, e é muito bom quando somos reconhecidos como teatro."
Francielle Cavalheri
O kung fu na dança
"A Paula já havia experienciado com o corpo o treinamento com o professor Dirceu. Como o kung fu tem katis (movimentos essenciais da luta) baseados em animais, queríamos criar um kati por causa da borboleta que é descoberta no livro: papilus inocentis. Pelo lado da Inocência, vimos a luta da mulher, então treinamos e construímos, junto com o Dirceu, um kati da borboleta."
Renata Leoni
Quem quiser descobrir mais sobre o Corpomancia, sobre Inocência e todo o processo de construção, acesse o site do coletivo http://corpomancia.blogspot.com.br/.
Thiago Moraes
Najon
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